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#003: leituras de maio
hoje venho aqui (meses depois da última newsletter, mas eu me recuso a me estressar com regularidade) trazer um apanhado de coisas que li em maio, para quem, como eu, adora saber o que outras pessoas têm lido.
a vida fora de ler coisas (e de maratonar ted lasso, série na qual me viciei tardiamente principalmente para shippar loucamente roy/keeley/jamie) está agitada, porque meu apartamento está em obras (uma reforma maravilhosa com projeto da tany) e enquanto isso estamos (eu e pandora) morando com minha avó. além do mais, estou com o muito trabalho de sempre, e no processo de reescrever uma história que vem aí.
sigo evitando redes sociais exceto por breves momentos, e um dos efeitos curiosos disso é sentir o tempo passar de outro jeito — não acompanho a vida de tanta gente todo dia o tempo todo e acabo não sabendo o que está acontecendo com ninguém nem a última vez que soube. então: como vocês andam?
pandora segue tentando atrapalhar na hora de fazer a cama
leituras do mês*
quando um monte de editora botaram uns ebooks de graça no começo da pandemia, eu peguei para ler cordialmente cruel, da maureen johnson (trad. paula di carvalho). eu não amei, mas me diverti, e acabei acompanhando a série que não para de crescer. o mais recente, nine liars, comecei a escutar em audiobook** (com narração de kate rudd) indo e voltando de maceió e acabei no começo de maio. achei, como todo o resto da série, divertido, e não pensei muito mais nele depois.
no primeiro de maio, acabei também de ler história da menina perdida (trad. maurício santana dias), o último da tetralogia napolitana da elena ferrante. é mesmo tão bom quanto todo mundo diz, e transporta o leitor de um jeito muito impressionante — acabei com a sensação de voltar de repente de uma viagem a nápoles, e de me despedir com finalidade de amigas de vida inteira.
comecei no final de abril e ainda estou lendo (ou seja, li por maio inteiro) nossa parte de noite, de mariana enríquez (trad. elisa menezes). demorei pra engatar porque estava com dificuldade pra me concentrar, mas amo os outros dois livros da autora que li (este é o mar, também traduzido por elisa menezes, e as coias que perdemos no fogo, traduzido por josé geraldo couto) então perseverei. agora que engatei, ficou difícil largar, e finalmente estou acabando, e inteiramente apaixonada. é, na minha opinião, o melhor dela até agora, uma narrativa vasta de seitas, famílias complicadas, crescimento e amadurecimento, no contexto da segunda metade do século XX na argentina. o aspecto de terror é um pouco pesado (muitas imagens violentíssimas), mas ainda assim recomendo também para quem não é habituado ao gênero.
por causa da tal dificuldade de me concentrar, de resto passei maio apenas nos audiobooks. amateur: a true story about what makes a man, de thomas page mcbee (e, no áudio, narrado pelo próprio autor) é um livro curto (tem menos de 4h de audio) de memórias com toque jornalístico, sobre a experiência de mcbee ao treinar para uma luta de boxe. nesse processo, ele trabalha e analisa questões ligadas à construção da masculinidade e da virilidade, do seu ponto de vista como homem trans.
couplets: a love story, de maggie millner (em audiobook narrado pela autora), tava com certo hype e eu fiquei curiosa para escutar. é um romance-em-versos explorando os relacionamentos da protagonista conforme ela se descobre queer e tenta viver de um jeito diferente ao que vivia antes. não me pegou muito, mas foi gostoso de ouvir (e também curto: tem 1h30).
the obsession (narrado por catherine ho e david lee huynh) é um dos thrillers ya da jesse q. sutanto, autora mais conhecida pela comédia de ação (hilária!!!!!) disque t. para titias (traduzido aqui por luciana padua dias e maria carmelita dias) (eu escutei disque t em audiobook em inglês, dial a for aunties, com narração de risa mei, e recomendo muito pegar o áudio porque a narração acrescenta uma camada de humor excelente). queria um mistério divertido, e foi o que consegui! gostei mais do que do outro thriller ya dela, the new girl, e me lembrou muito you, então recomendo pra quem também curte.
eu acompanho a escrita da anna fitzpatrick na internet há anos, e me interessei imediatamente por good girl, romance que ela lançou recentemente. finalmente escutei (com narração de mich anger) e, apesar de ser uma leitura que eu senti que teria aproveitado mais uns anos atrás, gostei bastante. é um livro sobre uma jovem perdida na vida que tenta se encontrar por meio de bdsm e também da investigação sobre uma revista cool esquecida há décadas, e recomendo pra quem gosta de narrativas com a vibe millennials-que-sentem-e-pensam-demais da sally rooney.
o último audiobok de maio foi yellowface (narrado por helen laser), da r.f. kuang (mais conhecida por seus livros anteriores: a série a guerra da papoula e babel), por indicação da luisa, e valeu muito a pena. é uma sátira do mercado editorial, com toques de thriller, e eu não queria parar de ouvir, e cheguei a gargalhar alto na rua enquanto escutava passeando com a pandora. o enredo acompanha uma escritora branca que rouba o manuscrito de uma amiga, uma autora sino-americana de muito sucesso, após sua morte.
*sem contar leituras de trabalho
**ouço audiobook sempre pelo scribd. para quem tiver interesse em experimentar 60 dias grátis, dá para se inscrever pelo meu link (e aí eu ganho 30 dias grátis também).
links selecionados
eu toda vez indico texto da clara, mas é que ela é (além de uma das minhas amigas mais amadas) uma excelente escritora. hoje, destaco textos de suas duas newsletters: o autoexplicativo “IAs são geradores de lero-lero com nome sci-fi”, e a beleza reflexiva-literária-emocional-nostálgica que é “from the vaults, ou ecos emocionais”.
gosto muito do que betts (que é, entre outras coisas, criadora da incrível revista literária ofic magazine, voltada para publicação de ficção “original” de autores de fanfic) escreve sobre escrita, mesmo quando eu não concordo inteiramente com os conselhos ou as abordagens. essa newsletter aqui, falando sobre seu processo de escrever um romance, ficou na minha cabeça principalmente pelo trecho em que ela escreve sobre the self-work divide, a divisão entre o autor e seu texto que permite encarar o trabalho sem julgamento moral sobre si:
the thing about adages is that even when they’re right, we lose sight of what they’re really saying. for those who rail against the shitty first draft, what’s really happening is that you’re tying yourself up in your writing. you’re seeing your work as a reflection of yourself. a story becomes a two-way street: you put yourself in it, and its reception speaks back to you. if it is loved, you are loved. if it is met with apathy, then you are boring. but a story is not a surrogate self. you don’t remove part of yourself and put it in something and then lose that part of you. writing fills; it doesn’t empty.
falar sobre ozempic esteve na moda nos últimos meses, e o que eu mais gostei de ler a respeito não só do uso do remédio, mas, principalmente, da forma como seu uso é comentado pela mídia foi esse texto da casey johnston: “the yassification of ozempic”.
dois vídeos para pessoas interessadas no mercado editorial: taissa reis, agente sênior da três pontos (e minha agente!), lançou uma videoaula gratuita sobre “como publicar seu livro digital" que é muito útil para quem quer enveredar por esse caminho. também para autores, diana passy, profissional com mais de 15 anos no mercado, lançou uma videoaula gratuita: “o que você precisa saber para publicar seu livro”. vale aproveitar para recomendar a newsletter da diana, em que ela responde dúvidas sobre o mercado editorial.
cantinho dos jabás
já que não estou usando as redes sociais, sinto falta de compartilhar trabalho de gente legal e querida que quero que tenha mais alcance. então vou tentar instituir este cantinho de propaganda (que eu estou fazendo voluntariamente, ninguém me pediu, nem pagou) para espalhar as coisas boas aqui com o pessoal da newsletter. e se você me lê aqui e quer divulgar seu trabalho, pode responder este e-mail; quem sabe compartilho numa newsletter futura.
o turista literário, clube de assinatura de livro (que eu assino e adoro!), lançou uma nova modalidade, com preço mais em conta! aqui explicam a diferença entre os planos, e dá pra assinar por aqui.
para quem curte rpg: o canal too many goblins começou uma campanha bem legal chamada rio mortis. é um rpg de terror que se passa no rio de janeiro em 1984, e conheci porque minha amiga karla está participando. trailer aqui, vídeos no youtube aqui, e catarse aqui.
retrato de como passo a maior parte do meu tempo: levando lambidas na cara da pandora
hoje ficamos por aqui! até a próxima!