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#001: voltando de férias
olá! boas-vindas à minha nova newsletter! se você está aqui, ou assinou direto esta newsletter, ou assinava alguma versão anterior dela, e seu e-mail foi migrado para cá. com a morte do twitter revue e as controvérsias do substack, dei uma fuçada em outros possíveis lares de newsletter, e vim parar no beehiiv. vamos ver no que dá?
a vista diária das férias
passei as férias em uma praia do município de icapuí, no ceará (quase rio grande do norte). por uma semana, dormi, peguei sol, comi bem, bebi caipirinha, abracei minha família, e li só o que estava com vontade de ler, sem preocupações de trabalho. queimei o braço no sol com uma mancha ridícula dos meus dedos porque me distraí enquanto passava filtro solar, gastei minha cota de aventuras para o ano de 2023 inteiro subindo uma duna que nem é tão alta nem tão complicada mas me fez gritar "acho que vou desistir!" no meio do caminho, estreei biquíni novo e boné novo e cogitei completar minha transformação em copacabanense e andar pela rua normalmente de biquíni e havaiana agora que voltei ao rio, fiquei emocionada de sentir menos asco do que normalmente sentiria ao ouvir o hino nacional no lindo dia da posse do lula, e passei a virada do ano dormindo profundamente e sem a menor culpa.
ou seja: férias, né.
agora que voltei, caí direto no turbilhão de correria de sempre. além do imenso volume de trabalho (sempre aquela mistura de "que bom!" (porque sou freela/autônoma/terceirizada e portanto mais trabalho = mais dinheiro) e "que ruim!" (porque uma coisa que acontece nas férias é que eu percebo que é gostoso à beça não trabalhar)), finalmente alinhei para mês que vem duas das minhas metas mais importantes para o ano: a reforma do meu apartamento, e uma reunião para engatar na edição/reescrita de um projeto importante que não posso revelar tanto assim até o anúncio oficial etc.
o que está ajudando a segurar a barra é ter tomado a decisão (no dia 31 logo antes de pegar no sono profundo de cansaço do ano inteiro de 2022 de viagem) de sumir das redes sociais. apaguei o instagram do celular e não usei mais o twitter (mas para fins de transparência aviso que entro nos dois de manhã só para ver se tem alguma notificação importante e aí fecho imediatamente (e o plano é parar de fazer isso também mas por enquanto tá ajudando a controlar o ~fomo)) e todo dia longe das timelines tira um pesinho das minhas costas. vamos ver se sigo nessa ou se vai ser uma dessas coisas que a gente diz que está dando certíssimo no meio de janeiro e aí quando relê em dezembro passa certa vergonha. por enquanto, porém, está sendo gostoso.
mais paisagens diárias das férias. essas formações rochosas parecem cenário de star trek tos.
leituras da quinzena*
o empurrãozinho final para largar as redes sociais (mais do que dez argumentos para você deletar agora as suas redes sociais, que li no fim do ano e tem até umas coisas interessantes, mas acho que sou amiga demais da clara para ler sem achar meio paia) foi a leitura que estava fazendo na virada do ano: no one is talking about this, de patricia lockwood, que captura tão bem um ethos Extremely Online que começou a me dar taquicardia de nervoso. e aí no meio do livro ainda vira uma história sobre família e direitos reprodutivos que também me deu taquicardia de nervoso. bom à beça, recomendo.
eu li a amiga genial, primeiro livro da tetralogia napolitana da elena ferrante, lá em 2018, e gostei muito. mas tenho um negócio de não conseguir emendar leitura de séries e por isso fiquei com o resto da tetralogia perdida entre os milhões de livros empilhados no chão do escritório e fui enrolando. aí finalmente, nas férias, na praia, no sol, no calor, devorei história do novo sobrenome (trad. maurício santana dias), e amei, amei, amei, muito mais do que o primeiro livro, e estou há uns dez dias carregando lila e lenu na minha cabeça e pensando em logo, logo pegar história de quem foge e de quem fica.
ainda nas férias, fui começar outra tetralogia: o seasonal quartet da ali smith, cujo primeiro livro é autumn. foi, assim como o da patricia lockwood, presente de natal da minha irmã, que me conhece melhor do que ninguém e portanto acerta sempre nos livros. com o brexit como pano de fundo, autumn acompanha a amizade antiga e improvável de elisabeth e daniel — ela, nascida nos anos 1980, e ele, já passado dos cem anos —, e é belíssimo. outros livros da autora foram publicados aqui pela companhia das letras, e estou torcendo para esse quarteto também ser, para eu panfletar por aí.
além do da patricia lockwood, estava com outro livro começado ao virar o ano: o audiobook** de our wives under the sea, de julia armfield, com narração de annabel baldwin e robyn holdaway. o livro me tinha sido muito bem recomendado, tanto por pessoas conhecidas quanto por críticas que acompanho, e eu de fato gostei. a escrita é bonita e atmosférica, e é um uso interessante de contexto de terror/sci-fi para contar uma história íntima. infelizmente, gostei mais da história íntima do que de quando a narrativa enveredou por mais enredo de terror, então perdi o pique mais para o final.
emendei no audiobook de even though I knew the end, de c.l. polk, com narração de january lavoy, uma novella de romance lésbico semitrágico, noir dos anos 1940, e fantasia com anjos e demônios. foi uma leitura rápida, mas enquanto ouvia fui bem transportada para a chicago dos anos 1940, e para as tensões dramáticas de helen e edith.
e emendei, em seguida, em vladimir, de julia may jones, com narração de rebecca lowman. é outro livro desses que li pelo hype, e tem questões bem interessantes, especialmente dentro do contexto de políticas acadêmicas e contradições internas e hipocrisias de pontos de vista pseudo-revolucionários. a narração da protagonista, que é carregada de cinismo, solipsismo e julgamento, se presta muito bem ao formato do áudio.
agora, estou lendo beleza e tristeza, de yasunari kawabata (trad. lívia ivasa), que ganhei de presente da clara, e, em áudio, second place, de rachel cusk, com narração de kate fleetwood. na próxima newsletter venho contar o que achei.
*sem contar leituras de trabalho
**ouço audiobook sempre pelo scribd. para quem tiver interesse em experimentar 60 dias grátis, dá para se inscrever pelo meu link (e aí eu ganho 30 dias grátis também).
pesquisas inusitadas que fiz para trabalhar
o trabalho de escritora/tradutora/preparadora envolve pesquisas incessantes, às vezes curiosas. eis uma pequena seleção de pesquisas recentes que me ocuparam certo tempo, sem contexto.
municípios do goiás por ordem de população. santas católicas de nome catarina. "troubled-teen industry". tabloides dos anos 2000 (obrigada pop culture died in 2009). brinquedos clássicos de parque de diversões. a coleção de cabeças encolhidas do nicolas cage. muitas letras de músicas da taylor swift. partes do milho.
links selecionados
eu vivo flertando com a ideia de ler e seguir a proposta de o caminho do artista, de julia cameron, e esbarro na minha resistência emocional ao papo autoajuda nova era de deus e chamado espiritual. mas o quadrinho da janaína esmeraldo e o texto da babi carneiro sobre a experiência delas com o livro me deixaram bem inspirada, e estou cogitando experimentar essa onda em 2023 (clássica meta de janeiro, né?).
ano passado li small game, da blair braverman (em audiobook narrado por kristen sieh), um thriller sobre um grupo de participantes de um reality show de sobrevivência que acabam precisando sobreviver de verdade, para além dos limites da televisão. é um livro legal, e eu já tinha acompanhado um pouco da trajetória da blair no twitter, mas o que mais me impressionou mesmo foi esse texto sobre a experiência dela no programa naked and afraid (ou, no título brasileiro muito superior, largados e pelados). para quem acompanha esses realities (não é meu caso), fica a informação a título de curiosidade: o marido de blair, quince mountain, foi o primeiro participante trans assumido no programa.
curti muito esse texto de mark harris sobre shortbus, filme de john cameron mitchell de 2006. o autor do texto participou dos "testes" para atuar no filme, que seguiram um molde inusitado, devido à proposta de ser um filme realista, sexualmente explícito, e gravado com pessoas "de verdade", em vez de apenas atores. como complemento, fica a dica de que shortbus, em versão remasterizada, está em exibição até dia 25 (em são paulo) ou 27 (no rio) no instituto moreira salles.
ainda no tema cinema e sexo, esse trio sobre cenas de sexo (ou a falta delas) no cinema atual: "everything is beautiful and no one is horny", de rs benedict; "the sex scene is dead, long live the sex scene", discussão entre doreen st. félix, naomi fry, vinson cunningham, e alexandra schawrtz; e "no escurinho do cinema: a língua do desejo", de thiago gelli.
a parte que achei mais interessante em dez argumentos para você deletar agora as suas redes sociais, de jaron lanier, foi a que tratava da arquitetura das redes sociais voltada para gerar ultraje, assédio, ódio, e campanhas agressivas que dão lucro porque dão cliques. nesse assunto, gostei muito de "it's not your fault you're a jerk on twitter", de katherine cross, que tenta destrinchar essa mesma ideia, e do quadrinho "piled on", de mallorie udischas-trojan, que parte de uma perspectiva mais pessoal.
já falei da clara nesse e-mail, mas aproveito para indicar a nova newsletter dela, intern3t!!!11, na qual ela compartilha reflexões sobre a internet advindas do trabalho dela como pesquisadora/pessoa-que-pensa-a-internet-profissional-e-academicamente. recomendo aproveitar que a newsletter é nova e ler logo de uma vez os poucos textos já publicados, mas também, se quiserem ter uma noção da pegada, deem uma lida nessa carta sobre a internet policentrada e a cybersyn.
toda tentativa de fotografar a lua cheia iluminando a maré dava resultado com cara de caderno universitário tilibra. meu lema de 2023 é i am cringe but i am free.